zona abissal

Camila Guidelli
2 min readAug 24, 2022

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li uma vez em algum lugar, que peixes da zona abissal desenvolvem bioluminescência. ou seja, produzem luzes com o próprio corpo por viverem em um ambiente tão profundo e escuro.

qual será a linha estreita que separa a busca incessante por aquilo que nos torna quem somos em essência, da coragem de ultrapassar os limites da própria busca, para um abismo de não saber o que há além disso?

tenho reparado que investigar, também é um tipo de vício. talvez libere alguma substância química no cérebro, que faça com que a imersão ao farejar se torne quase uma obsessão. “afinal, aonde isso vai me levar?”

a busca, sempre a busca

talvez simplesmente seja hora de retornar do mergulho profundo.

foi bem lá no fundo, na imensidão vazia, que achei que ia encontrar a maior resposta para todas a minhas grandes questões. e foi mergulhando, mergulhando cada vez mais fundo, que deixei de ver a luz da superfície e vi a mim mesma tomada pela escuridão, mas de alguma forma ainda produzindo algum tipo de luz própria.

talvez seja hora de parar de descer para as profundezas e voltar a permitir que a luz do sol ilumine meu rosto. talvez seja o momento de retornar do outro lado do espelho e mergulhar para cima.

talvez o maior ato de coragem pós imersão, seja ressurgir das profundezas com a lembrança do que se encontrou na zona abissal do próprio oceano.

como respirar depois que os pulmões foram tomados por águas geladas?

como aquecer o coração depois que ele foi tomado por águas escuras?

talvez a melhor parte de nadar de volta para a superfície, seja parar de mergulhar em busca de respostas e retornar invadida por novas perguntas.

um mar de novas perguntas, onde a constatação de que nem tudo precisa de resposta, somado com um pouco de confiança de que mesmo que o sol não brilhe todos os dias, ele sempre há de brilhar outra vez.

coragem é um prato que se come no ato do desapego.

afinal, a própria vida não passa de um movimento efêmero.

vale a pena viver na escuridão por medo de não ver o sol brilhar?
sinceramente, acho que não. e nesse momento essa é a única resposta que preciso.

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